INTERNACIONAL
Por que Israel atacou o Irã? O que se sabe até o momento sobre o conflito
Escalada militar deixa mortos e reacende temor de guerra aberta no Oriente Médio
A tensão entre Israel e Irã atingiu um novo patamar nesta quinta-feira, 12, quando as Forças de Defesa de Israel lançaram ataques aéreos contra dezenas de alvos militares e nucleares no território iraniano. O principal foco da ofensiva foi a usina de Natanz, centro estratégico do programa de enriquecimento de urânio do Irã. Houve também bombardeios em instalações militares como o aeroporto de Tabriz e ações de sabotagem conduzidas pelo serviço secreto israelense, o Mossad, com o uso de drones.
O governo israelense afirmou que a ação teve caráter preventivo e mirou conter uma ameaça considerada iminente: o avanço do programa nuclear iraniano. Tel Aviv acusa o Irã de acumular urânio enriquecido suficiente para fabricar até quinze bombas nucleares, com um terço desse material produzido apenas nos últimos três meses. Para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o ataque foi necessário para impedir que o regime iraniano obtenha armas de destruição em massa.
A ofensiva matou figuras-chave do aparato militar iraniano. Entre as vítimas estão Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária, e Mohammad Bagheri, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ambos tinham influência estratégica nas decisões militares e eram próximos do líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei. Dois cientistas nucleares ligados ao programa atômico do país também morreram.
No dia seguinte, sexta-feira, 13, o Irã reagiu com o lançamento de centenas de mísseis balísticos e drones contra alvos israelenses. Alguns projéteis conseguiram furar o sistema de defesa de Israel e atingiram áreas em Tel Aviv. O regime iraniano classificou a ofensiva israelense como uma “declaração de guerra” e prometeu uma retaliação “dolorosa”. O líder Ali Khamenei afirmou que tanto Israel quanto os Estados Unidos pagarão caro pelo envolvimento nos ataques.
O confronto intensifica uma rivalidade histórica que remonta à Revolução Islâmica de 1979. Até então, o Irã mantinha relações diplomáticas com Israel. Com a ascensão do regime dos aiatolás, o país rompeu laços com Tel Aviv, ou a apoiar organizações como o Hezbollah e o Hamas e adotou uma postura anti-Israel como pilar ideológico. Desde então, os dois países travam uma guerra indireta, marcada por sabotagens, espionagem e ações militares pontuais.
A questão nuclear é um dos principais pontos de tensão. Embora o Irã afirme que seu programa tem fins pacíficos, Israel e países ocidentais veem nas atividades nucleares iranianas uma ameaça real. Um dia antes do ataque, o Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovou uma resolução de censura ao Irã pela falta de cooperação com inspetores internacionais. Em resposta, Teerã anunciou a criação de uma nova unidade de enriquecimento.
O conflito também expõe o desequilíbrio militar entre os países. Israel tem superioridade tecnológica, com caças de última geração, sistemas de defesa avançados como o Domo de Ferro e cerca de 90 ogivas nucleares. Conta ainda com o apoio militar e diplomático dos Estados Unidos. Já o Irã tem o segundo maior efetivo militar do Oriente Médio e investe fortemente na produção de drones e mísseis balísticos, apesar de operar com uma frota aérea obsoleta.
O governo norte-americano negou envolvimento direto nos ataques, embora mantenha presença militar na região. O presidente Donald Trump declarou que ainda há tempo para um acordo e pediu que o Irã evite “ataques ainda mais brutais”. No Brasil, o Itamaraty condenou os bombardeios israelenses, citando violação à soberania iraniana, e alertou para o risco de um conflito regional de grande escala.
A comunidade internacional reagiu com preocupação. A União Europeia, ONU, Otan, Alemanha e Reino Unido pediram moderação. A China e a Rússia condenaram a ação israelense, enquanto a França defendeu o direito de Israel à autodefesa, mas também clamou pelo fim da escalada. A AIEA expressou temor sobre os ataques a instalações nucleares, alertando para o risco de contaminação radioativa.
Apesar dos apelos diplomáticos, as autoridades israelenses indicam que os ataques podem continuar. O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, afirmou que o objetivo é destruir por completo a capacidade nuclear do Irã, mesmo sem previsão de quanto tempo a operação levará. A ameaça de novos confrontos paira sobre o Oriente Médio e aumenta o temor de uma guerra de larga escala.