Visita de Figueiredo a Alagoas preocupou SNI
A visita do presidente João Figueiredo a Alagoas, em 21 de novembro de 1980, preocupou o Serviço Nacional de Informações, o SNI, o principal órgão de inteligência do governo federal. A vinda de Figueiredo coincidiu com um escândalo revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo apenas algumas semanas antes: o governador Guilherme Palmeira distribuiu 336 apartamentos construídos com dinheiro público para colegas e amigos, incluindo deputados do PDS, o partido do governador.
Os apartamentos ficavam no Conjunto Divaldo Suruagy, no bairro do Pinheiro. Erguido com recursos do Banco Nacional de Habitação, o BNH, deveriam ser entregues a pessoas com renda acima de 5 salários mínimos, incluindo funcionários públicos, exigindo-se que eles nem tivessem casa própria nem outro imóvel financiado pelo BNH. Mas, por ordem do governador, as 336 unidades ganharam outro destino: 148 distribuídas entre amigos de Guilherme; 188 com políticos do partido do governador, sendo dez para cada um dos 14 deputados estaduais e 48 imóveis para os deputados federais Divaldo Suruagy e Antônio Ferreira, vereadores e outros políticos.
Eram apartamentos confortáveis: 3 quartos, 1 banheiro social, sala para dois ambientes, distribuídos em área privativa de 80 metros quadrados e ocupando uma região em amplo processo de valorização. E, pelo protocolo presidencial, estes apartamentos seriam inaugurados por Figueiredo.
Os planos mudaram após o próprio presidente do Instituto de Previdência do Estado, Eduardo Uchoa, confirmar o plano de distribuição das moradias. Pressionado, Guilherme Palmeira responsabilizou o diretor anterior do instituto e ele foi exonerado por corrupção. O esquema foi revelado pela Assembleia Legislativa, através de uma I.
O SNI comunicou a João Figueiredo que “a visita do PR [presidente] a este evento é desaconselhável, em face dos fatos que cercaram a distribuição dos imóveis do Conjunto, e pela possibilidade de manifestações de descontentamento, da parte dos prejudicados, pela péssima atuação do então presidente do IPASE/AL”, referindo-se ao instituto e ao gestor anterior a Eduardo Uchoa.
Entre os deputados estaduais que ajudaram a revelar o esquema estava Renan Calheiros e o federal Mendonça Neto. O SNI desaconselhava os assessores de Figueiredo a manter o contato do presidente com os dois deputados.
O Conjunto Divaldo Suruagy foi demolido após rachaduras e o afundamento do solo provocados pela Braskem. Já o Pinheiro, bairro considerado em processo de valorização em 1980, se transformou em zona proibida e foi evacuado após a tragédia ambiental e humanitária.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA