É professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e cirurgião especializado em cirurgia digestiva. Graduou-se em medicina pela Ufal (1980) e é mestre em gastroenterologia cirúrgica pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp. Atua como docente e cirurgião na área de cirurgia digestiva da Ufal.

Conteúdo Opinativo

A doença do século

13/06/2025 - 06:00
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Texto de Benedito Ramos – Escritor.

Quem não se lembra de um filme de 2001 sobre um cientista que cria um menino-robô para preencher o vazio deixado pela morte de seu filho? O filme já tratava do tema: inteligência artificial.

Pergunto: o que leva uma pessoa a tentar substituir um ser humano por um bebê reborn?

O assunto tem sido tratado pela mídia, redes sociais e outros meios de comunicação com certo desprezo, deboche e humor, sobretudo quando o dono do brinquedo comporta-se exageradamente, fantasiando o bebê reborn como um filho. Volto a perguntar: por que uma pessoa, em aparente equilíbrio emocional, leva um bebê reborn para uma emergência de saúde, pede licença-maternidade à empresa em que trabalha ou anda na rua como se carregasse seu próprio filho no colo?

Mais uma pergunta: por que esse fenômeno tem ocorrido com tanta frequência no primeiro quartel do século XXI?

Você sabia que o mercado brasileiro desse produto movimenta cerca de 20 milhões de reais por ano? Sabia também que o Brasil lidera esse mercado?

Então, também deveria saber que, no início, o produto era considerado por especialistas como um atenuante no tratamento do Alzheimer. Muitos vídeos já apresentaram essa confirmação de mudança de humor dos pacientes de posse do bebê reborn.

No entanto, por que pessoas aparentemente sem problemas psicológicos mudam de comportamento?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é uma doença que afeta mais de 264 milhões de pessoas no mundo inteiro. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) considera a depressão o mal do século XXI.

Segundo o portal gov.br, em publicação do Ministério da Saúde, a depressão é um problema médico grave e altamente prevalente na população em geral. De acordo com estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Já conforme a OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é de 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico.

Em todo o texto, a parte mais dramática é classificada como “humor depressivo”. Eis o trecho:
“Trata-se de uma sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Tudo parece vazio, o mundo é visto sem cores, sem matizes de alegria. Muitos se mostram mais apáticos do que tristes, referindo um ‘sentimento de falta de sentimento’. Julgam-se um peso para os familiares e amigos, invocam a morte como uma forma de alívio para si e para os familiares. Fazem avaliação negativa acerca de si mesmos, do mundo e do futuro. Percebem as dificuldades como intransponíveis, tendo o desejo de pôr fim a um estado penoso. Os pensamentos suicidas variam desde o desejo de estar morto até planos detalhados de se matar. Esses pensamentos devem ser sistematicamente investigados.”

Há alguma dúvida de que o problema dessas pessoas é a solidão?

É a solidão silenciosa, solitária ou compartilhada com seus familiares. Cada um cioso de sua própria vida pessoal, guardando para si mesmo seus problemas. Não há solidão coletiva quando as pessoas enxergam amigos do outro lado do planeta e não cumprimentam o vizinho do próprio edifício em que moram ou alguém da sua própria casa. O individualismo tomou conta do planeta, e o ser humano ou a ter menos importância do que um cão, um gato ou mesmo um bebê reborn.

Em alguns países, as pessoas se casam com seus animais, consigo mesmas e até com bonecas infláveis — fetiches de suas experiências sexuais. A depressão é a falta de expectativa de felicidade, a falta de afeto, a indiferença, o abandono e, sobretudo, a violência e o desamor à vida. Pessoas que não conseguem mais encontrar Deus em suas vidas porque não veem o próximo tão próximo de si — mas tão longe do seu coração. Nós, seres humanos, nos odiamos. Nós, seres humanos, nos tornamos indiferentes ao sucesso e à felicidade do próximo, assim como à sua tristeza ou infelicidade, à sua dor ou até à sua morte. Mais do que nunca, “o homem é o lobo do homem”.

Uma metáfora popularizada por Thomas Hobbes que demonstra que o maior inimigo do homem é o próprio homem. E eu ainda complementaria: o homem do século XXI é inimigo de si mesmo quando se distancia de sua própria espécie e, assim, se distancia de Deus.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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